Entrevista por Leonardo Santana e Orelha Bonham
1. A banda é
uma das mais antigas no cenário underground pernambucano, desde 87 fazendo o
thrash metal a sua religião. Qual a grande motivação de manter o grupo na ativa
com um thrash old e o que o público pode esperar para o show com o Matanza?
Jairo Neto - Bem a motivação é ter o metal na veia: Cruor em latim antigo
significa sangue derramado ou “o que dá a cor vermelha ao sangue”궞 No Recife, é sinônimo de metal e é o que
tenho nas veias, o cruor que é a minha vida! A maior parte da minha história -
dos 42 anos de idade, 25 foram dedicados ao Cruor. As formas passam, o
pensamento permanece, o acidental muda, mas o essencial perdura. Bem, o show
com o Matanza será com o repertório reduzido por conta de ter várias bandas de
abertura, mas com certeza quem for nos ver tocar terá algumas surpresas...
Wilfred Gadêlha - Na própria pergunta está a resposta: fazer metal para a gente é uma religião. Não é à toa que, após 25 anos de atividades, a banda continua na ativa, compondo, tocando, planejando e investindo no que a gente acredita. Vimos, através dos anos, modas irem e voltarem, estilos surgirem e morrerem, mas não abrimos mão de sermos agressivos, rápidos e pesados. Não é demagogia: acreditamos no que fazemos e isso nos basta. Isto é o que nos move. Sobre o Matanza Fest, será uma grande oportunidade para a banda. Tocar com um grupo do nível do Matanza, que tocou no último Rock In Rio e tem uma legião de fãs em todo o País, é gratificante. Ainda mais porque a gente pode mostrar o nosso som para pessoas que ainda não nos conhecem. Levando-se em consideração o fato de que o Matanza atrai um público variado, a gente se sente à vontade porque tocar para quem não nos conhece é sair da zona de conforto. É um desafio que a gente gosta. Além disso, a gente vai dividir palco com o Fourpigs, que tem Marcelo Demo na guitarra, o cara que fundou o Cruor em 1986. Que fique claro: nós marcamos a nossa "idade" a partir do primeiro show, que aconteceu em Candeias, em 13 de novembro de 1987. Para nós, uma banda existe quando ela sai da garagem ou do estúdio. Ou seja: é óbvio que o Cruor já existia antes de subir no palco. Ou seja 2: nós somos a banda mais antiga de Pernambuco em atividades ininterruptas. Ou seja 3: mas isso é apenas um fato. O que importa é que a gente continua fazendo o nosso fucking thrash metal haja o que houver, doa em quem doer.
2. Durante
todo esse tempo, qual o show que o grupo achou mais fuderoso fazer?
Wilfred Gadêlha - Cara, não dá pra não ser óbvio: o show mais foda que fizemos foi a
abertura para o Megadeth, em abril de 2010. Era o nosso primeiro show com a
nova formação (eu no vocal, Jairo Neto no baixo, Túlio Falcão na guitarra e
Bruno "Bacalhau" Montenegro na bateria) e tínhamos uma excelente
estrutura à disposição para detonar. Vimos, viemos e vencemos: subimos e
fizemos o que nós sabemos fazer. Ficamos eternamente agradecidos pela acolhida
que o público nos deu, à produção do Megadeth, que foi 100%, e à Raio Lazer,
que confiou no Cruor.
Jairo Neto - A abertura do Megadeth, sem dúvida, foi o mais importante. Já pensou, você pirralha comprando o Peace Sells e 20 anos depois abrir o show da banda? O Death Angel também foi muito irado por que os caras fizeram questão de ir ao nosso camarim nos conhecer e, quando acabamos de passar o som, ouvimos aplausos atrás do palco: era toda a banda Death Angel nos aplaudindo, felicitando. O baixista ainda veio ver o equipamento que eu estava usando e conversamos bastante. Ter o Death Angel no nosso camarim por livre e espontânea vontade deles realmente não teve preço, mas na minha opinião foi o de Carpina, o primeiro show que fizemos depois do Megadeth. Estávamos muito à vontade no palco...
3. Com a nova
formação a banda lançou um EP em 2011. Algum novo trabalho está em andamento
para 2013?
Jairo Neto - Já estamos em fase de composição desde junho e o disco está 80%
composto. Depois do Matanza, iremos dar uma parada nos shows até terminarmos o
novo disco...
Wilfred Gadêlha -
Nós lançamos o EP Unburied em janeiro de 2010. Foram quatro músicas
"novas" à época, que registramos para marcar a nova fase da banda.
Era como soávamos em janeiro de 2010. Passados quase três anos, estamos
terminando o processo de composição do nosso segundo full-lenght. Falta pouco
para finalizarmos as composições. Demos muitos passos à frente no que concerne
aos arranjos e à própria maneira de compor. Estamos coesos e afinados.
Pretendemos entrar em estúdio ainda no primeiro trimestre. O disco deverá se
chamar Back to the Front, será produzido por Marco Antônio Duarte, guitarrista
do Decomposed God, e terá 10 canções, uma das quais uma versão de uma grande
banda do underground nordestino.
4. O que o metal
de vocês representa nos tempos atuais?
Wilfred Gadêlha - Metal é um estilo de vida e não se fala mais nisso. Não importa se
você curtiu a década de 80 ou está curtindo agora. Claro que há diferenças,
aquele papo de "hoje é mais fácil". Mas a concorrência atualmente é
mais ferrenha e, mesmo que pareça nostalgia, falta aquela brodagem de outrora.
Eu, pessoalmente, curto muitas bandas recentes e antigas. Para mim, metal não necessariamente
precisa ser feito uísque, quanto mais velho melhor. Instiga e sangue no
olho são mais importantes do que idade.
Jairo Neto - Representa resistência, luta, acreditar em você mesmo e no seu som. Sempre fomos uma banda de thrash metal old school com algumas influências de death metal (que nos idos dos anos 80 chamava-se black metal) e hardcore: é o que chamamos de fucking thrash metal. Apesar da “falência temporaria do thrash”, sempre acreditamos no que fazíamos e nunca mudamos de estilo por modismo ou conveniência. Com o ressurgimento do thrash metal no mundo, ficamos muito felizes pois fomos a primeira banda de assumidamente thrash metal de Pernambuco, quiçá do Nordeste. O fato de ver tantas bandas no Brasil voltando à ativa com o mesmo som e reabrindo os espaços nos deu muita alegria ...
Por Orelha Bonham
5. O que a Banda cruor espera do movimento underground,
depois de anos de estrada e vendo novas bandas e o ressurgimento do Thrash na
cena pernambucana?
Jairo Neto - Aprendi uma coisa em 25 anos de carreira com o Cruor: nunca esperar
nada! Trabalho e dedicação à banda, fazer o som que gostamos e o que vier será
consequência disso tudo. O movimento underground ja existia no Recife antes de
nós e sempre existirá com a nossa participação ou não. Discordo do rumo que
certas coisas estão tomando, mas o essencial, que é o público, sabe o que
quer e o que gosta e fodam-se o resto...Quanto ao ressurgimento do thrash na
cena pernambucana, da mesma forma que, quando começamos com isso no Recife no
nosso primeiro show em 1987, demos também nosso quinhão de contribuição para o
ressurgimento do thrash em Pernambuco,assim como outras bandas locais do
gênero. Só acho que o ressurgimento do thrash metal é um fenomeno mundial, e
somos só um grão de areia neste universo. Sem nós, não faria a menor diferença
porque os modismos sempre passarão, mas quando um som é verdadeiro ele se
eterniza e sempre renasce... É muito bom ver bandas investindo no thrash metal,
mesmo que algumas delas, por receio ou por modismo, não se assumirem totalmente
thrash...
Wilfred Gadêlha - Cara, o underground é um lugar esquisito. A gente milita nele há décadas e, como disse anteriormente, há altos e baixos. Eu sou um fã inveterado do thrash metal. Fico muito feliz em ver que aqui em Pernambuco existem muitas bandas novas. Eu gosto particularmente de Carrasco (que tocava um cover de Tortura), Bonebreaker e Pandemmy, no que diz respeito a thrash e suas subvertentes. Fico feliz em ver que nós veteranos ainda temos gás e digo isso tendo em mente também bandas como The Ax e Oddium. Faz gosto de ver essa mistura dos coroas com a meninada. E para quem diz que o Cruor faz um som datado, basta passar dez segundos no mosh pit quando tocamos. Aí você volta e diz o que achou (hehehehehe).
6. A repercussão de “Unburied” tem sido incrível e traz para
a banda novas forças para continuar sua trajetória. Quais bandas pernambucanas
no olhar de experiência de vocês, estão num bom caminho?
Jairo Neto - Antes de tudo, obrigado pelo “incrível”! O nosso último EP só reflete
porque estamos aqui, mas acho que finalmente encontramos nossa maturidade
musical e nosso caminho. Diga-se de passagem, as novas composições não tem nada
haver com o Unburied, que foi um EP feito “nas coxas” num momento em que
estávamos totalmente desacreditados pela mídia e parte do público. Foi gravado
no estúdio de Chimbinha do Calypso (grande brother, mais uma vez obrigado!) em
um fim de semana. Portanto quem estiver esperando um disco “parecido” com o
Unburied, vai ter uma grande surpresa, pois estamos enveredando por um caminho
com uma identidade mais pessoal. O EP ainda tem a cara do primeiro CD, mas o
que está por vir é mais a “cara” da nova formação. Estamos muito felizes por
ter nos encontrado nesse caminho e quem for ao Matanza Fest já terá a
oportunidade de perceber isso... Quanto às bandas que acho que estão num bom
caminho, tem uma que já virei fã, que é o Oddium, também o Inner Demons
Rise, o Vocífera, o Firetomb e o Aorta. Também gostei muito do som do Falling
in Disgrace ... Acho que todas essas que citei estão num bom caminho, com
humildade aprendendo com o passado, projetando o futuro com uma pegada muito
boa.
Wilfred Gadêlha - Unburied, o EP, nos trouxe muita coisa. Reconhecimento, oportunidades
e mais instiga. Foi via Unburied que conseguimos tocar com Megadeth e
Death Angel. Foi via Unburied que fomos para dentro de Pernambuco tocar em todo
canto. Sobre as bandas, eu citei bandas de thrash locais que eu curto, mas
queria acrescentar aí nomes fora do thrash, como Cangaço, Dune Hill,
Antropofagia e Inner Demons Rise. Eu aprecio a sonoridade delas. Estou
particularmente ansioso para ouvir dois trabalhos que prometem: os debuts do Cangaço
e do Pandemmy. Da "velharia", eu não consigo parar de gostar de
Storms! Grande banda de uma grande cidade onde temos muitos amigos!
7. Se o mundo acabasse em 2012 realmente, o que a Cruor
lamentaria de não ter feito?
Wilfred Gadêlha - Rapaz, eu queria que o mundo só acabasse ano que vem, de preferência
depois que a gente lançar o nosso novo disco. Ah, queria ter visto o Slayer
aqui no Recife. Já vi em São Paulo, mas em casa é muito mais rochedo!
Jairo Neto -
Mandado uma porrada de gente "nada a ver" tomar no cu! Brincadeiras à
parte, lamentaria não ter feito o disco que planejamos para 2013, que, na
minha humilde opinião, será tão expressivo com foi o nosso debut em 1995 - até
hoje é um disco atual. É assim que vejo a música, não um retrato de um momento
mas algo a eternizar-se pelo menos aos meus ouvidos...
8. Deixo o
espaço para que expresse o que quiser.
Jairo Neto - Inicialmente gostaria de agradecer a honra de ter cedido esta
entrevista e agradecer a todos que curtem nosso som e continuam acreditando em
nosso trabalho e dizer que vão ter que nos aguentar por, no mínimo, mais 25
anos... Também gostaria de agradecer a todos os produtores que de alguma forma
contribuiram para chegarmos ao nosso jubileu de prata, como Lourdes Rossiter,
Ervel Lundgren, João Marinho, Lulinha e Raio Lazer, Alcides Burn, Fundarpe,
Levi Birne, Léo Frias, Pisca Produções e etc, etc... Agradecer ainda todos os
zines e rádios underground da América Latina e Europa, por todos os
espaços e apoio que nos deram durante nossa jornada, pois, sem vocês e os
headbangers do Nordeste, nossa jornada não teria tido tanto êxito... E
esperamos tão logo quanto possível levar o nosso som aos metalheads de Moreno!
Wilfred Gadêlha - É isso aí. Obrigado pela oportunidade e continuem assombrando os vizinhos e os pais!
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